Iniciativa
As paradas que movimentam a arte
Iniciativa da Secretaria de Cultura de Rio Grande poderá servir como exemplo para outras cidades brasileiras em catálogo anual da Confederação Nacional dos Municípios
Paulo Rossi -
Esperar o ônibus num abrigo com arte é melhor, comenta a estudante Yolanda Torma, de 21 anos. Na parede de metal do abrigo atrás de onde estava sentada, na ERS-734, no acesso ao Cassino em Rio Grande, uma tartaruga pintada pelo artista Lucas Stuczynski. O artista já pintou mais de 20 abrigos em bairros de Rio Grande através do projeto Arte na Parada, desenvolvido pela Secretaria de Cultura do município. São imagens da natureza, da história e da cultura de Rio Grande desenvolvidas por artistas locais e que ajudam na preservação dos abrigos.
Em novembro de 2018, a iniciativa configurou entre as melhores do país através do concurso MuniCiência, da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). A ideia será replicada para todas as cidades brasileiras em um catálogo que será distribuído em 2019. Para Yolanda, que pega o ônibus diariamente na mesma parada, o projeto também valoriza a arte da cidade. "É um incentivo para artistas locais e que tratam de questões muito importantes do meio ambiente", destaca.
Hoje são mais de cem paradas grafitadas ou pintadas por artistas locais. Para cada obra, a Secretaria desembolsou R$ 350,00 a cada artista como ajuda de custo pelo material e o trabalho realizado. Outras cem devem ser pintadas na segunda etapa do projeto, ainda em vigor. Na primeira etapa o Arte na Parada reuniu trabalhos de oito artistas. A participação aumentou para 15 artistas no segundo edital, que ainda tem paradas para serem pintadas.
Espaço urbano e humano
O secretário Ricardo Freitas, de Cultura, trata do projeto como uma ideia de humanizar os espaços públicos, qualificar equipamentos urbanos e democratizar o acesso à arte local. Fora disso, ainda entra a questão da preservação dos abrigos, que vinham sofrendo com o vandalismo. Em novembro, Ricardo esteve em Portugal a convite da CNM para divulgar o projeto para cidades do país. "A vantagem, além de deixar a cidade colorida, fez com que todas as paradas pintadas parassem de sofrer depredações", complementa Freitas.
Foi isso que chamou a atenção no concurso, destacado com outros 15 projetos de outros municípios brasileiros. A primeira tentativa de envolver artes nas paradas foi com fotos. No entanto, elas continuaram sendo depredadas e as placas arrancadas. Com o grafite, elas começaram a ser preservadas por toda a comunidade. Em breve, uma iniciativa envolvendo a área do turismo quer formar roteiros temáticos pelos espaços urbanos ocupados pelo grafite, integrando também os muros do Porto e da Sociedade Amigos do Cassino (SAC), locais que se tornaram tradicionais na arte urbana rio-grandina.
O grafite rio-grandino
Lucas Stuczynski tem 31 anos e mora em Rio Grande há quatro. A tinta faz parte da vida do grafiteiro desde quando ele tinha 16 anos. Natural de Porto Alegre, o artista vê o grafite rio-grandino diferente antes e depois dos eventos Meeting Of Style que aconteceram na cidade. O evento internacional, considerado um dos principais de grafite e arte urbana, popularizou o estilo na cidade e fez com que muitos moradores passassem a admirar o muros coloridos. "O evento foi muito importante pro grafite da cidade, que é diferente antes e depois do Meetings", avalia.
Cursando Gestão Ambiental na Furg, as temáticas no primeiro edital foram fauna e flora da região. O trabalho de pesquisa contou com a ajuda do Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema). Lucas pintou 20 paradas. Na segunda etapa, ele resolveu ampliar para fauna e flora da região em extinção. "Demora mais ou menos umas duas horas cada trabalho", detalha. Usuário do transporte coletivo da cidade, o grafiteiro vê o projeto já inserido no cotidiano local. Antes, enquanto esperava o ônibus chegar, já via as placas de metal como telas para suas obras - o projeto encontrou sua ideia.
"Eu pensava, esperar o ônibus é muito chato e, com um trabalho assim na parada, cada um tem um entendimento. É uma atração, uma distração", acredita. A ajuda de custos oferecida pelo município ainda não é a ideal, uma vez que acaba financiando apenas os materiais de pintura. Com o recurso apertado, também fica impossível para o artista passar um verniz em cima da pintura, o que dá mais durabilidade para a obra. Na segunda etapa, também houve participação de duas artistas: Larissa Kras e Mariana Corrêa. Elas querem servir de exemplo para aumentar a participação feminina nos próximos editais do Arte na Parada.
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